segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Inscrições para uma Roda de Conversa sobre “A homotransfobia em tempos de pandemia”

 

Nós do Mocambo Arco-ìris do Meob não podemos te dizer qual é o sentido da vida, mas dizemos com segurança que nossa vida tem sentido e ele é construído na luta contra a discriminação e toda forma de à violência que degrada a pessoa. Por isso lutamos contra todos que, por ação ou omissão, contribuem para que tantas pessoas morram injustamente neste país. Convidamos você para uma Roda de Conversa com a presença da Kika Medina, Presidente da Associação  LGBT de SJC e militante da luta pelas travestis e transexuais

Sua participação é fundamental!

 Data: 15 de agosto de 2020 

Horário: Das 14:00h  às 16:00h

A roda de conversa  será transmitida pelo Google Meet 

Atenção: Inscrições Limitadas

Inscrições pelo link abaixo: 

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSeyP01apXr5fVVtegpXdbExd7xUu5nnwsgv9kLRkLTZsz6onA/viewform?usp=sf_link

sábado, 25 de julho de 2020

I seminário sobre retorno às aulas presenciais pós-pandemia MEOB - TLS - MOVER


Inscrições para o I seminário sobre retorno às aulas presenciais  pós-pandemia MEOB - TLS - MOVER

Somos contra o retorno às aulas presenciais até que se tenha condições de saúde e sanitárias porque, segundo a ciência, a escola é o local de maior troca de material biológico, portanto até que a vacina chegue à sociedade devemos evitar novos surtos de contaminação. 
Participe deste seminário e conheça os pontos ideais de um protocolo de retorno às aulas elaborado por profissionais do chão de giz, fundamentado em protocolos científicos de importantes universidades e instituições: CNTE, Fiocruz, Unesp, UFCE, UFMG, PUC, UNICAMP, governo estadual SP, prefeitura de SP,Fundação Carlos Chagas, IPEA, NEPEI, Portaria 1565 do ministério da saúde. 
Com a presença de especialistas:  Psicóloga da Saúde Coletiva e Médica de Família da USP 
Sua participação é fundamental!
Data: 01de agosto de 2020 
Horário: 14:00 hs 
O seminário será transmitido pelo Google Meet 
Atenção: Inscrições Limitadas

Inscrições pelo link abaixo: 

sábado, 18 de julho de 2020

MANIFESTO - EDUCADORES CONTRA O RETORNO IRRESPONSÁVEL ÀS AULAS PRESENCIAIS!


Assine esse documento clicando em:
https://docs.google.com/forms/d/1igPhPXtmLNgJJKHQsLRqbTUhbfgkiy6z2Uanp4dvd7c/edit

Mãos Dadas
 “Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas!”
Carlos Drummond de Andrade



Manifesto pelo Direito à Vida e à Educação Pública
Nós, educadores das redes municipal, estadual e conveniada região localizada na Zona Sul da cidade de São Paulo, vimos a público expor às comunidades escolares nossa posição contrária ao irresponsável anúncio de retorno às aulas presenciais. Entendemos que ainda não há segurança para um retorno em níveis que garantam condições de proteção a todos e todas, o que ocasionará o contágio de milhares de trabalhadores e seus filhos, com consequente aumento no número de óbitos.
Doria e Covas, contrariando a experiência internacional, além de não terem adotado o lockdown, têm promovido o retorno às atividades não essenciais em plena subida do índice de contágio e mortalidade, com 83 mortes diárias, em média, na semana entre 5/7 e 11/7, na capital. (Boletim Diário COVID 19 / SMS).
Apesar de, inicialmente, se contraporem ao genocida Bolsonaro o governador e o prefeito, para atenderem aos interesses do mercado, diante da proximidade das eleições, demonstram insensibilidade ao querer vender a ideia de sucesso no combate à pandemia parecendo considerarem aceitável as milhares de vítimas. 
Divulgam um protocolo de retorno completamente deslocado da realidade de nossas unidades escolares demonstrando nunca terem visitado as escolas municipais, estaduais e tampouco os CEIs conveniados. Estabelecem múltiplas tarefas para um quadro de profissionais defasado, mesmo antes da pandemia, mas não assumem a responsabilidade de contratação de mais educadores nem a realização de obras emergenciais para adaptação dos prédios às novas normas sanitárias exigidas em seus protocolos.
Queremos, sim, voltar às escolas, pois há um entendimento geral de que as aulas remotas, mesmo com o grande esforço dos educadores, não atingem a maioria de nossos estudantes (bebês, crianças, jovens e adultos) porém, não podemos arriscar nossas vidas, de nossos estudantes e de seus familiares na medida em que a comunidade médica, os cientistas e a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmam que a escola em atividades poderá se transformar em grande propagadora do vírus.
"Se as escolas reabrirem em setembro, teremos 17 mil crianças mortas por COVID, 
Segundo o matemático Eduardo Massad, professor titular da Escola de Matemática Aplicada Fundação Getúlio Vargas (FGV).”
"Quantas crianças morreram por Covid hoje no Brasil? Alguém tem ideia? 300 e poucas crianças abaixo de 5 anos morreram no Brasil. Se a gente reabrir as escolas, nós vamos chegar a 17 mil. São 17 mil crianças que vão morrer e não precisariam morrer. Todo o resto dos problemas vocês conseguem dar um jeito e resolver. Perder 17 mil crianças não há solução possível. Nós estamos falando de vidas. Se perder um ano, ninguém vai morrer por isso. Se a gente abrir sem um planejamento muito preciso e um controle muito grande, o que vai acontecer é que vai morrer 17 mil crianças contra 300 e poucas no curso natural da epidemia, com as escolas fechadas." ( G1 14/07/2020)
Temos consciência da importância da escola na vida social dos estudantes e de suas famílias, especialmente em nossa região caracterizada como de alta vulnerabilidade social, e queremos mantê-la como promotora da vida. Para tanto, assim como em outros países, compete aos governos criarem as condições para o acesso do estudante à educação, neste momento virtual, e a seus pais para manterem seus filhos em isolamento social com garantia de alimentação, moradia, saúde e acesso à Internet.
Destacamos, ainda, que o “princípio do distanciamento físico é uma condição essencial para a saúde”, na organização e nas relações o distanciamento é fundamental e sabemos que as modalidades têm suas especificidades. Porém, temos em comum o entendimento de que a Educação é uma ação que parte das interações, da coletividade, a comunidade escolar se configura nas relações, nas práticas, nas experiências coletivas. A relação dialógica, assim como o contato entre pares é inevitável no processo educativo.
Reafirmamos que a principal forma de se proteger, minimamente, da doença, é impraticável com a volta às aulas, pois estaremos colocando as pessoas numa situação de alto risco de morte mesmo com revezamento, alternâncias ou quaisquer outras medidas que não considerem como se dão no cotidiano as relações escolares no processo educacional. Escalonar não garante o “atendimento escolar”, aprendizagem das crianças, nem segurança alimentar.
Dizer que a volta às aulas vai simplesmente resolver o problema das famílias que não têm com quem deixar as crianças é uma falácia. Essa questão envolve uma articulação de políticas públicas que estão muito além da educação escolar. Se considerarmos como exemplos os CEIs, modalidade na qual não é possível (não recomendado, a propósito) o uso de máscaras em bebês e crianças pequenas e nem o distanciamento, não se estará minimizado os riscos, e sim os potencializando. 
Entendemos como grave e de responsabilidade das próprias SME de SP e SEDUC /SP assumirem institucionalmente as possíveis “mortes” ao pôr em alto risco a vida de todos os envolvidos, e não dividiremos o ônus das consequências que podem ocorrer com esse retorno açodado, em situação na qual só está se ampliando o risco contra a vida dos profissionais da educação, dos estudantes e seus familiares.   
Enquanto não for seguro, somos contra o retorno, assim como reafirmamos a necessidade de adoção de políticas públicas de combate ao desemprego, de divisão de renda, distribuição de cestas básicas, adoção de auxílio emergencial no estado e no município, controle de preços, distribuição de botijão de gás e isenção às famílias mais carentes das contas de água e de luz.
A classe trabalhadora não pode e não deve ser a principal vítima de uma pandemia que, na sua origem, está o DNA da burguesia.

Precisamos falar sobre precariedade menstrual





domingo, 28 de junho de 2020

Vídeo - Educação para educadores

Antoni Zabala - Competências

Pensadores: Paulo Freire, Jean Piaget e Lev Vygosky

Livros - Domínio Público




Paulo Freire: 17 livros para baixar em PDF

Livros de Paulo Freire para Baixar

1. A Importância do Ato de Ler

2. A Propósito de uma Administração

3. Ação Cultural para a Liberdade

4. Cartas à Guiné-Bissau

5. Educação como Prática da Liberdade

6. Educadores de Rua, uma Abordagem Crítica – Alternativas de Atendimento aos Meninos de Rua

7. Extensão ou Comunicação

8. Medo e Ousadia

9. Pedagogia da Autonomia

10. Pedagogia da Esperança

11. Pedagogia da Indignação

12. Pedagogia: Diálogo e Conflito

13. Pedagogia do Oprimido

14. Política e Educação

16. Professora Sim, Tia Não

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Quase 50% da população se diz de direita ou centro-direita

(Foto: Reprodução do filme Democracia em Vertigem)

Dados revelam que no atual momento para se derrotar um candidato de direita como Bolsonaro no Brasil seria necessária uma união de toda a esquerda e de todo o centro.

  O fenômeno Bolsonaro não é um fato isolado, o Brasil tem hoje uma parcela significativa de sua população com direito à voto que se declara de direita. A 3ª edição da Pesquisa Fórum revela que 40,8% dos eleitores se dizem de direita e 8,6% de centro-direita. Na outra ponta, apenas 13,6% se dizem de esquerda e 7,2% de centro-esquerda. Os eleitores que se dizem de centro são 29,9%.
  Esses dados revelam que no atual momento para se derrotar um candidato de direita como Bolsonaro no Brasil seria necessária uma união de toda a esquerda e de todo o centro. E mesmo assim a disputa seria muito dura. A esquerda mais o centro resultariam em 50,6%. Só a soma da direita com a centro-direita somam 49,4%.


Mais idoso, mais de direita

  A pesquisa também revela que os homens são mais de direita que as mulheres. E que quanto mais idoso o brasileiro, mais conservador.
Entre os homens 43,5% se dizem de direita, enquanto entre as mulheres são 38,4%. De centro-direita, são 8,9% de homens e 8,3% de mulheres. No centro, a proporção é quase a mesma. 30,1% de mulheres e 29,6% de homens. À esquerda a proporção de mulheres é bem maior, 16,5% contra 10,3% de homens. E na centro-esquerda os números são semelhantes, 7,2% para ambos os gêneros.



  Entre as faixas etárias, o destaque fica para entre os mais jovens (16 a 24 anos) 21,6% dos brasileiros se afirmarem de esquerda e 6,4% de centro-esquerda, que somados resultam quase na mesma porcentagem dos de centro, 29,5%. Mesmo nesta faixa onde os índices de esquerda sobem, a direita ainda é majoritária, 30,8%. E os de centro-direita, 11,8%.
Entre os mais idosos os eleitores de esquerda vão sumindo. E os de direita aumentando. A proporção de eleitores de esquerda x direita, é de praticamente 4 para 1 eleitor, dos que têm 45 anos para mais.

Mais pobres são mais de esquerda

  Entre os que ganham até 2 salários mínimos 18,7% se afirmam de esquerda. É o maior índice de esquerda entre as faixas salariais. Mas mesmo nela, os que se afirmam de direita resultam numa porcentagem bem maior, 40,8%.
Nos votos regionais, os melhores índices da esquerda estão no Centro-Oeste, 17%, e no Nordeste, 16,8%. No Centro-Oeste, porém, 44,1% se dizem de direita. No Nordeste esta porcentagem é menor, 36,4%.

Pesquisa inova com metodologia

  A 3ª Pesquisa Fórum foi realizada entre os dias 10 e 13 de junho e ouviu 1000 pessoas de todas as regiões do país. A margem de erro é de 3,2 pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O método utilizado é o de painel online e a coleta de informações respeita o percentual da população brasileira nas diferentes faixas e segmentos.

  O consultor técnico da Pesquisa Fórum, Wilson Molinari, explica que os painelistas são pessoas recrutadas para responderem pesquisas de forma online. A empresa que realiza a pesquisa, a Offerwise, conta com aproximadamente 1.200.000 potenciais respondentes no Brasil. “A grande vantagem é que o respondente já foi recrutado e aceitou participar e ser remunerado pelas respostas nos estudos que tenha interesse e/ou perfil para participar. No caso da Pesquisa Fórum, por ser de opinião, não existia perfil de consumidor restrito, como, por exemplo, ter conta em determinado banco, ou possuir o celular da marca X. O mais importante era manter a representatividade da população brasileira, tais como, gênero, idade, escolaridade, região, renda, etc.”
  Molinari registra que pesquisas feitas em ruas ou nos domicílios costumam ter margem de erro menor. “Porém sabemos que 90% da população brasileira possui acesso à telefonia celular e, especificamente na situação de quarentena que estamos vivendo, o método online é mais seguro do que o pessoal e sempre é menos invasivo que o telefônico”, sustenta.
  Pouco usado para pesquisas de opinião no Brasil, os painéis online são adotados como método de pesquisa no mundo todo, segundo Molinari. E regulamentados pelas principais associações de pesquisa. “Os painéis hoje são amplamente utilizados para pesquisas de satisfação, imagem de marca, qualidade de produtos e serviços, opinião, etc”, acrescenta.

A inversão de valores para o novo pensamento conservador, por Christian Dunker

Por  Patricia Faermann




Do Blog da Boitempo
Por Christian Ingo Lenz Dunker
A educação sexual das crianças: a enunciação repressiva
 
   Já que o relativismo comportamental é a lei geral, por que não usar a mesma regra para enunciar valores tradicionais? Já que o feminismo está se colocando por toda parte por que não voltar a vestir o machismo escancarado? É esta inversão imaginária que comanda a gramática conservadora contemporânea por meio da moral dupla e da enunciação repressiva.
* Este artigo é um desdobramento da coluna anterior de Christian Dunker no Blog da Boitempo, intitulada “A educação sexual das crianças: a moral dupla“.

 Seria de se esperar que a psicanálise mantivesse uma atitude de respeitosa complacência e admiração pelas variedades antropológicas dos semblantes assumidos pela sexualidade humana, mantendo uma atitude de neutralidade benevolente, análoga à que se espera do clínico diante de seus analisantes. Diante do combate cultural, das políticas sexuais ou das problemáticas de gênero deveríamos adotar a crença de que não há evolução nem hierarquia, mas apenas indiferença. O que se ganha de um lado perde-se de outro. No que diz respeito a valores ou modalidades de educação, todos eles seriam igualmente ruins na medida em que têm por objetivo comum reproduzir a repressão das pulsões. O argumento se encontrará resumido por Freud em O mal-estar na civilização, notadamente em sua ponderação sobre o papel da tecnologia: a mesma época que inventou o telefone, capaz de aproximar as pessoas, popularizou as estradas de ferro, que levaram estas mesmas pessoas para longe de nós.
  Contudo, seria preciso lembrar aqui um texto freudiano fora desta curva – e muitas vezes esquecido pelos comentadores, com a notável exceção de Wilhelm Reich – chamado A moral sexual civilizada e a doença nervosa moderna, de 1908. Para aqueles que estão acostumados a enfatizar o machismo adrocêntrico e familiarista de Freud esquecendo-se convenientemente do argumento do relativismo cultural, seria importante lembrar como nesse texto Freud critica a moral dupla, que incide de forma seletiva para homens e mulheres no que diz respeito à sexualidade, notadamente quando se trata da monogamia e do uso dos prazeres. A tese central é de que o excesso de repressão (ou sacrifício da satisfação sexual) concorre para a produção social dos sintomas neuróticos. Contudo, o ponto crucial é menos o conteúdo da norma do que a rigidez e a demanda de sacrifício que ela carrega em si ou que ela quer impor aos outros.
  Se a psicanálise tem alguma contribuição a oferecer ao regime das práticas sexológicas ou erotológicas ela recairá menos na prescrição de certos valores e mais na crítica da sua enunciação repressiva. Em outras palavras: indiferença quanto à diversidade das modalidades de gozo e resistência contra as instâncias que tentam monopolizá-las, quer subjetivamente (como o supereu), quer culturalmente (como as religiões, o Estado e a família). Em última instância, os semblantes são apenas montagens contingentes entre uma coisa e outra.
  Cento e dez anos depois do texto seminal de Freud, podemos dizer que a regra se mantém mas nos convida a lidar cada vez mais com a variante invertida desta estrutura. Nossas modalidades de gozo são cada vez mais sensíveis à criação de identidades, segmentações de consumo e orientações políticas. Inversamente, o oligopólio religioso da repressão deu lugar, ao menos nas sociedades ocidentais, ao projeto de auto-empreendimento individual de enunciação da norma. Por isso, podemos olhar para sociedades altamente repressivas, como a indiana, e perceber nelas uma centelha crítica. Ela tornou-se um caso de espelho invertido, de certa maneira anacrônico, de nossa relação com a moral sexual civilizada pós-moderna. Queremos prescrever um kama sutradigital como capítulo preliminar da felicidade compulsória que impomos para nossas crianças. Por outro lado, as tratamos com um equivalente da moral dupla e ambígua que Freud descreveu para as mulheres. Consideramos que elas são nossa posse e extensão, propriedade e investimento, mas também que deveriam ser livres e autônomas. Tudo isso sem nos desobedecer. Terceirizamos sua educação e nos desincumbimos do trabalho cultural de sua formação. Queremos protegê-las do mal, controlando todos os riscos trazidos pelo outro, ao mesmo tempo em que esquecemos dos riscos que nós mesmos representamos para eles como enunciação unilateral da norma. Percebe-se assim que o semblante, como articulação entre a lei e o prazer, é o lugar de uma contradição. Uma contradição que piora e mostra seus efeitos deletérios quando não pode ser reconhecida em sua estrutura de “como se”.
  O tema tão importante nos anos 1980 da educação sexual, ainda que combinado com a problemática da reprodução, da prevenção da gravidez precoce e das doenças infecto contagiosas, desapareceu quase completamente nos anos 2010. No lugar disso emerge a obscena Índia que havia ficado adormecida no Brasil profundo da Retomada: cultura do estupro, assédio generalizado, persistência do turismo sexual e da prostituição infantil, retóricas religiosas administrando o sexo antes, durante e depois do casamento, sem falar na cobertura jurídica para tratamentos de “reorientação sexual” ou no controle de museus e universidades.
  Tudo se passa como se o discurso conservador do Brasil do Retrocesso estivesse propondo o exato oposto da atitude psicanalítica: semblante composto pela enunciação repressiva, seletiva e “flexível” da norma junto com intolerância radical quanto aos modos de gozo que não lhes são idênticos. “Flexível” aqui não é mais o contrário de rígido, como se usava empregar para qualificar o supereu freudiano. Por isso, “flexível” pode assumir o valor de não ter posição alguma, isentar-se ou decidir que sua posição é a de não ter posição. “Flexível” quer dizer: de acordo com a conveniência de quem aplica localmente a regra. Ou seja: flexível na aparência, opressivo na essência. Enunciados liberais, enunciação repressiva. Exatamente como se diz que as novas leis trabalhistas flexibilizam as relações entre patrões e empregados, facultando que milhares de professores universitários sejam demitidos em nome desta “flexibilização”.
  Já que todas as identidades são possíveis, por que não a do meu curral eleitoral? Já que o relativismo comportamental é a lei geral, por que não usar a mesma regra para enunciar valores tradicionais? Já que o feminismo está se colocando por toda parte por que não voltar a vestir o machismo escancarado? É esta inversão imaginária que comanda a gramática conservadora por meio da moral dupla e da enunciação repressiva.


  A Boitempo acaba de disponibilizar mais um curso completo em seu canal no YouTube! Em “A psicanálise do Brasil entre muros”, o psicanalista Christian Dunker conduz uma leitura comentada de seu aclamado livro Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros. Ao todo, são sete aulas de cerca de 15 minutos cada dedicadas a atravessarem, capítulo a capítulo, a leitura dessa densa e explosiva obra que levou o Prêmio Jabuti na categoria de psicologia e psicanálise. A série pode servir tanto de complemento quando introdução à leitura desta contribuição desafiadora para pensar criticamente o Brasil hoje.

Christian Ingo Lenz Dunker é psicanalista, professor Livre-Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Analista Membro de Escola (A.M.E.) do Fórum do Campo Lacaniano e fundador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP. Autor de Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica (AnnaBlume, 2011) vencedor do prêmio Jabuti de melhor livro em Psicologia e Psicanálise em 2012 e um dos autores da coletânea Bala Perdida: a violência policial no Brasil e os desafios para sua superação (Boitempo, 2015). Seu livro mais recente é Mal-estar, sofrimento e sintoma: a psicopatologia do Brasil entre muros (Boitempo, 2015), também vencedor do prêmio Jabuti na categoria de Psicologia e Psicanálise. Desde 2008 coordena, junto com Vladimir Safatle e Nelson da Silva Junior, o projeto de pesquisa Patologias do Social: crítica da razão diagnóstica em psicanálise.

A forma necessária: ultraneoliberalismo, política social e conservadorismo moral sob o governo Bolsonaro



Por Sonara Santos

EBC
     O golpe que derrubou Dilma Rousseff fortaleceu no país os setores reacionários, que se sentiram à vontade para, sem pudores, disputar a hegemonia no interior das frações burguesas, e na sociedade brasileira. A origem social e o caráter político dessa nova direita – sem qualquer relação com os movimentos sociais – permitiria (vem permitindo) ao seu líder, Bolsonaro, a aplicação de um ajuste estrutural necessário à resolução da crise econômica para o capital, mas que os tradicionais representantes (partidos e candidatos) do próprio capital não pareciam ter condições de levar a cabo. O projeto do atual governo, que combina ultraliberalismo econômico e reacionarismo político-cultural, inclui a luta em torno ao próprio papel do Estado, em especial no que diz respeito à sua política social.[1]
    Nas atuais condições, de crise econômica profunda e da aparente incapacidade de recuperação da acumulação de anos anteriores por meios das formas e arranjos políticos “convencionais”, coloca-se para o capital a exigência da aplicação de um ajuste estrutural tão atroz que parece só poder se efetivar por meio de um novo regime político, cada vez menos democrático. Destarte, a crescente blindagem da democracia (DEMIER, 2017) aparenta ser um elemento fundamental para realização desta nova reestruturação capitalista no Brasil. Assim, no campo político e ideológico, verificamos, também em nosso país, a conformação de uma nova razão do mundo (DARDOT e LAVAL, 2016).
    O desgaste do regime democrático-eleitoral, com o uso pelos conservadores do tema da corrupção, e a crise provocada pelo neoliberalismo levaram ao fortalecimento da ofensiva social, política, econômica e ideológica sobre a classe trabalhadora, e saídas autoritárias para resolução de conflitos. São medidas que tentam construir um consentimento que avalize a retirada de direitos conquistados, os quais são apresentados como a razão da crise econômica e decadência moral da sociedade.
A nosso ver, diferentemente do que alardeiam os defensores da tese da “cortina de fumaça”, a verborragia reacionária do governo e as diatribes proferidas por seus ministros não podem ser vistas como manobras diversionistas que, nessa perspectiva, cumpririam apenas o papel de desviar a atenção da sociedade (e a possível resistência de setores desta) para pautas morais, culturais e comportamentais, de modo que a agenda econômica governamental (em especial, as contrarreformas) possa ser efetivada sem muita contestação.
    A partir de uma perspectiva de totalidade, pensamos, do contrário, que o conteúdo ideologicamente moralista e, sobretudo, machista expresso nas declarações de expoentes do governo é parte constituinte e necessária de um projeto político que, visando à aplicação de uma plataforma ultraneoliberal, propõe uma reconfiguração regressiva das relações sociais no Brasil. Em outras palavras, dizemos que, diante da imposição de uma austeridade orçamentária brutal e de uma violenta ofensiva contra os direitos em geral, as nefastas consequências sociais provocadas por esta agenda política (aumento da desigualdade, do desemprego, da pobreza, dos adoecidos, jovens e idosos desassistidos, entre outras) requerem, do ponto de vista da eficácia da dominação burguesa, uma nova formatação no trato da questão social, em especial no que concerne à política social, e, ainda mais particularmente, à assistência social.
   Nesse sentido, combinada à difusão de “modernas” ideologias mercadológicas, típicas da “cultura de crise” neoliberal, como o individualismo, a concorrência, o empreendedorismo dos cidadãos-consumidores e a filantropia empresarial (MOTA,1995), verifica-se uma intensificação de ideologias conservadoras e retrógadas, sobretudo no que diz respeito ao papel social destinado à mulher, tomada como um sujeito centralmente voltado para as tarefas do lar, cuidados com a família e, se possível, dedicado à atividades de caridade e outras formas de voluntariado. Desse modo, longe de se excluírem, essas ideologias “avançadas” e “atrasadas” constituem, para nós, um arsenal cultural necessário ao novo modelo de dominação burguesa que se pretende estabelecer, o qual, por sua vez, parece ser necessário à nova forma de acumulação capitalista no país, ultraneoliberal, financeirizada e cada vez mais alimentada pela despossessão e espoliação de direitos (HARVEY, 2013). Portanto, remontando à dialética marxiana, pode-se dizer que a forma politicamente reacionária e culturalmente conservadora do governo Bolsonaro é uma forma necessária ao conteúdo de um projeto econômico ultraneoliberal para o país.
   Assim, para além de uma cortina de fumaça, as declarações misóginas de Damares Alves (ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos), assim como o primeiro-damismo carola de Michelle Bolsonaro – defensora contumaz de um voluntariado[2] – podem ser compreendidas como práticas necessárias à viabilização da agenda econômica contrarreformista do governo.
Divulgação/PR - Damares, Bolsonaro e Michelle
   A desresponsabilização do Estado no cuidado com crianças e idosos, como se sabe, atinge de maneira diferente homens e mulheres, negras e brancas. O fim do Estado como provedor de direitos sociais, a negação de direitos civis básicos a pessoas transexuais e às mulheres, assim como o racismo estrutural, são elementos funcionais para desumanização e desvalorização do trabalho de determinadas pessoas. É projeto do governo Bolsonaro aumentar os patamares de exploração no Brasil, e para isso manter níveis diferenciados e racializados de exploração são necessários. Assim, a naturalização ideológica de papéis sexuais, ao mesmo tempo que busca a destruição de laços de solidariedade entre potenciais aliados reforça os ataques do capital.
    A constante profusão de narrativas governamentais (e seus aliados digitais) em que mulheres, negros, LGBTs, ambientalistas e movimentos sociais em geral são apresentados como inimigos internos, como responsáveis pela degeneração social, contribuem para a construção de um consenso conservador, baseado nos valores tradicionais dos “cidadãos de bem” e da “família brasileira”, a qual passa a ser responsabilizada pelos serviços de proteção que gradativamente deixam de ser  oferecidos pelo Estado.
   É importante destacar também que essas ideologias conservadoras que ganham força a cada dia se contrapõem diretamente – e mesmo podem ser vistas também como respostas – à nova onda feminista, da qual emergiram autoras cujos trabalhos oferecem subsídios para entender o papel da mulher nesta nova configuração da acumulação capitalista. Indo além das formulações típicas da burocracia stalinista, as teóricas da reprodução social, superando as visões que reduziram o capitalismo às relações propriamente econômicas, essas autoras feministas recuperam a perspectiva  marxista que concebe  o modo de produção capitalista como uma totalidade, cuja persistência depende da contínua reprodução de relações sociais, o que coloca a importância não só de vários tipos de trabalho (trabalho improdutivo, trabalho não-pago etc.), assim como também de aspectos coercitivos e culturais.[3] Segundo Cinzia Arruzza, uma dessas autoras feministas:
   “A noção de reprodução social, nessa perspectiva, tem o sentido de destacar a centralidade do trabalho de manutenção da vida e de reprodução da próxima geração como uma parte do trabalho necessário no interior de todo o processo de reprodução societal. Sob o capitalismo a maior parte desse trabalho é executado no interior da unidade familiar, mas esse não é necessariamente sempre o caso. Ademais, dentro do capitalismo, a porção desse trabalho que é executado seja no interior da família, seja pelo Estado na forma de bemestar, ou pelo mercado, varia de acordo com as circunstancias históricas específicas” (ARRUZZA, 2017, p.41)
Assim, se, por um lado, a burguesia busca aumentar a cota de trabalho sob responsabilidade da família, de modo a aumentar a lucratividade do capital, por outro, o movimento feminista busca resistir à desobrigação do Estado com as áreas sociais. A disputa em torno ao caráter da assistência social é, portanto, um exemplo desta luta atual.
   Ao que tudo indica, o governo Bolsonaro está em vias de criar sua própria concepção de assistência social. Há um empenho governamental, sobretudo no âmbito ideológico, em se apagar a política pública de assistência como um direito, propugnando a substituição da assistência pelo assistencialismo, a partir da ampliação do trabalho caseiro, solidário e voluntário, no qual  predomina a força de trabalho feminina. Conforme afirmou Ana Elizabete Mota em recente palestra na Escola de Serviço Social da UFRJ, no momento em que há um aumento do desemprego, e que a política estatal de assistência, em vias de desfinanciamento, se mostra insuficiente para atender a uma população cada vez mais degradada, nota-se o avanço de um voluntariado de novo tipo, substituindo as políticas públicas justamente quando mais se precisa delas. Assistimos, portanto, à intensificação da filantropia ancorada em uma visão conservadora e patriarcal da mulher, da família, e da moral.
   O avanço dessas ideologias bolorentas, nos marcos de uma onda conservadora, parece estar resultando no retorno de uma visão conservadora sobre o próprio serviço social, isto é, no retorno de uma visão doméstica, feminina e voluntária da assistência social, significando, de certa maneira, justamente no quadro de um “moderno” ultraneoliberalismo financeirizado e digital, uma espécie de reaparição  das “arcaicas” protoformas da profissão, em um curioso e atual exemplo concreto da lei do desenvolvimento e combinado de Trotsky[4]
   Esse ultraneoliberalismo põe em xeque até mesmo o papel que a assistência social teve na construção do consenso nas décadas de 1990 e 2000. Nos parece que a tese apresentada por Mota, da expansão da assistência social em paralelo à mercantilização da seguridade social, pode ser atualizada, visto que nem mesmo essa mediação parece ser mais possível diante da necessidade de um novo patamar de exploração.
   O novo projeto ultraneoliberal no Brasil atual parece, assim, exigir não apenas a privatização da seguridade social, mas também o corte dos recursos destinados às políticas sociais sobrantes, inclusive às políticas constitucionais de assistência social e às políticas governamentais de caráter focalizado e compensatório. Nesse processo, para o capital, se faz necessário a derrota de todos os setores que representem algum grau de resistência à consolidação desse novo padrão de acumulação. O retorno do papel da mulher, e um novo tratamento da questão social, parecem vir a se combinar com o novo modelo de organização da vida social pretendido pela nossa classe dominante.
Referências:
Arruzza, Cinzia. “Funcionalista, determinista e reducionista: o feminismo da reprodução social e seus críticos”. Cadernos Cemarx n.10, 2017, p. 38-58.
BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história. São Paulo : Cortez, 2008.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo. Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
DEMIER, Felipe. Depois do golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 2017. 
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MOTA, Ana Elizabete. Cultura da crise e seguridade social: Um estudo sobre as tendências da previdência e da assistência social brasileira nos anos 80 e 90. São Paulo: Cortez, 1995.
[1] Sobre o histórico da política social no Brasil, ver (BEHRING e BOSCHETTI, 2008).
[2] “Michelle Bolsonaro propõe que trabalho voluntário desempate concursos”. Folha dirigida, 28 de agosto de 2019 (https://www.folhadirigida.com.br/noticias/concurso/especial/michelle-bolsonaro-propoe-que-trabalho-voluntario-desempate-concursos) (acessado em 29/08/2019).
[3] A noção de reprodução social, aliás, é um aspecto teórico fundamental para a própria discussão do Serviço Social, como já demonstraram importantes autores como IAMAMOTO (2008).
[4] Quanto a este conceito de Trotsky, ver (LOWY, 1999) e (DEMIER, 2008).