domingo, 28 de junho de 2020

Vídeo - Educação para educadores

Antoni Zabala - Competências

Pensadores: Paulo Freire, Jean Piaget e Lev Vygosky

Livros - Domínio Público




Paulo Freire: 17 livros para baixar em PDF

Livros de Paulo Freire para Baixar

1. A Importância do Ato de Ler

2. A Propósito de uma Administração

3. Ação Cultural para a Liberdade

4. Cartas à Guiné-Bissau

5. Educação como Prática da Liberdade

6. Educadores de Rua, uma Abordagem Crítica – Alternativas de Atendimento aos Meninos de Rua

7. Extensão ou Comunicação

8. Medo e Ousadia

9. Pedagogia da Autonomia

10. Pedagogia da Esperança

11. Pedagogia da Indignação

12. Pedagogia: Diálogo e Conflito

13. Pedagogia do Oprimido

14. Política e Educação

16. Professora Sim, Tia Não

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Quase 50% da população se diz de direita ou centro-direita

(Foto: Reprodução do filme Democracia em Vertigem)

Dados revelam que no atual momento para se derrotar um candidato de direita como Bolsonaro no Brasil seria necessária uma união de toda a esquerda e de todo o centro.

  O fenômeno Bolsonaro não é um fato isolado, o Brasil tem hoje uma parcela significativa de sua população com direito à voto que se declara de direita. A 3ª edição da Pesquisa Fórum revela que 40,8% dos eleitores se dizem de direita e 8,6% de centro-direita. Na outra ponta, apenas 13,6% se dizem de esquerda e 7,2% de centro-esquerda. Os eleitores que se dizem de centro são 29,9%.
  Esses dados revelam que no atual momento para se derrotar um candidato de direita como Bolsonaro no Brasil seria necessária uma união de toda a esquerda e de todo o centro. E mesmo assim a disputa seria muito dura. A esquerda mais o centro resultariam em 50,6%. Só a soma da direita com a centro-direita somam 49,4%.


Mais idoso, mais de direita

  A pesquisa também revela que os homens são mais de direita que as mulheres. E que quanto mais idoso o brasileiro, mais conservador.
Entre os homens 43,5% se dizem de direita, enquanto entre as mulheres são 38,4%. De centro-direita, são 8,9% de homens e 8,3% de mulheres. No centro, a proporção é quase a mesma. 30,1% de mulheres e 29,6% de homens. À esquerda a proporção de mulheres é bem maior, 16,5% contra 10,3% de homens. E na centro-esquerda os números são semelhantes, 7,2% para ambos os gêneros.



  Entre as faixas etárias, o destaque fica para entre os mais jovens (16 a 24 anos) 21,6% dos brasileiros se afirmarem de esquerda e 6,4% de centro-esquerda, que somados resultam quase na mesma porcentagem dos de centro, 29,5%. Mesmo nesta faixa onde os índices de esquerda sobem, a direita ainda é majoritária, 30,8%. E os de centro-direita, 11,8%.
Entre os mais idosos os eleitores de esquerda vão sumindo. E os de direita aumentando. A proporção de eleitores de esquerda x direita, é de praticamente 4 para 1 eleitor, dos que têm 45 anos para mais.

Mais pobres são mais de esquerda

  Entre os que ganham até 2 salários mínimos 18,7% se afirmam de esquerda. É o maior índice de esquerda entre as faixas salariais. Mas mesmo nela, os que se afirmam de direita resultam numa porcentagem bem maior, 40,8%.
Nos votos regionais, os melhores índices da esquerda estão no Centro-Oeste, 17%, e no Nordeste, 16,8%. No Centro-Oeste, porém, 44,1% se dizem de direita. No Nordeste esta porcentagem é menor, 36,4%.

Pesquisa inova com metodologia

  A 3ª Pesquisa Fórum foi realizada entre os dias 10 e 13 de junho e ouviu 1000 pessoas de todas as regiões do país. A margem de erro é de 3,2 pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O método utilizado é o de painel online e a coleta de informações respeita o percentual da população brasileira nas diferentes faixas e segmentos.

  O consultor técnico da Pesquisa Fórum, Wilson Molinari, explica que os painelistas são pessoas recrutadas para responderem pesquisas de forma online. A empresa que realiza a pesquisa, a Offerwise, conta com aproximadamente 1.200.000 potenciais respondentes no Brasil. “A grande vantagem é que o respondente já foi recrutado e aceitou participar e ser remunerado pelas respostas nos estudos que tenha interesse e/ou perfil para participar. No caso da Pesquisa Fórum, por ser de opinião, não existia perfil de consumidor restrito, como, por exemplo, ter conta em determinado banco, ou possuir o celular da marca X. O mais importante era manter a representatividade da população brasileira, tais como, gênero, idade, escolaridade, região, renda, etc.”
  Molinari registra que pesquisas feitas em ruas ou nos domicílios costumam ter margem de erro menor. “Porém sabemos que 90% da população brasileira possui acesso à telefonia celular e, especificamente na situação de quarentena que estamos vivendo, o método online é mais seguro do que o pessoal e sempre é menos invasivo que o telefônico”, sustenta.
  Pouco usado para pesquisas de opinião no Brasil, os painéis online são adotados como método de pesquisa no mundo todo, segundo Molinari. E regulamentados pelas principais associações de pesquisa. “Os painéis hoje são amplamente utilizados para pesquisas de satisfação, imagem de marca, qualidade de produtos e serviços, opinião, etc”, acrescenta.

A inversão de valores para o novo pensamento conservador, por Christian Dunker

Por  Patricia Faermann




Do Blog da Boitempo
Por Christian Ingo Lenz Dunker
A educação sexual das crianças: a enunciação repressiva
 
   Já que o relativismo comportamental é a lei geral, por que não usar a mesma regra para enunciar valores tradicionais? Já que o feminismo está se colocando por toda parte por que não voltar a vestir o machismo escancarado? É esta inversão imaginária que comanda a gramática conservadora contemporânea por meio da moral dupla e da enunciação repressiva.
* Este artigo é um desdobramento da coluna anterior de Christian Dunker no Blog da Boitempo, intitulada “A educação sexual das crianças: a moral dupla“.

 Seria de se esperar que a psicanálise mantivesse uma atitude de respeitosa complacência e admiração pelas variedades antropológicas dos semblantes assumidos pela sexualidade humana, mantendo uma atitude de neutralidade benevolente, análoga à que se espera do clínico diante de seus analisantes. Diante do combate cultural, das políticas sexuais ou das problemáticas de gênero deveríamos adotar a crença de que não há evolução nem hierarquia, mas apenas indiferença. O que se ganha de um lado perde-se de outro. No que diz respeito a valores ou modalidades de educação, todos eles seriam igualmente ruins na medida em que têm por objetivo comum reproduzir a repressão das pulsões. O argumento se encontrará resumido por Freud em O mal-estar na civilização, notadamente em sua ponderação sobre o papel da tecnologia: a mesma época que inventou o telefone, capaz de aproximar as pessoas, popularizou as estradas de ferro, que levaram estas mesmas pessoas para longe de nós.
  Contudo, seria preciso lembrar aqui um texto freudiano fora desta curva – e muitas vezes esquecido pelos comentadores, com a notável exceção de Wilhelm Reich – chamado A moral sexual civilizada e a doença nervosa moderna, de 1908. Para aqueles que estão acostumados a enfatizar o machismo adrocêntrico e familiarista de Freud esquecendo-se convenientemente do argumento do relativismo cultural, seria importante lembrar como nesse texto Freud critica a moral dupla, que incide de forma seletiva para homens e mulheres no que diz respeito à sexualidade, notadamente quando se trata da monogamia e do uso dos prazeres. A tese central é de que o excesso de repressão (ou sacrifício da satisfação sexual) concorre para a produção social dos sintomas neuróticos. Contudo, o ponto crucial é menos o conteúdo da norma do que a rigidez e a demanda de sacrifício que ela carrega em si ou que ela quer impor aos outros.
  Se a psicanálise tem alguma contribuição a oferecer ao regime das práticas sexológicas ou erotológicas ela recairá menos na prescrição de certos valores e mais na crítica da sua enunciação repressiva. Em outras palavras: indiferença quanto à diversidade das modalidades de gozo e resistência contra as instâncias que tentam monopolizá-las, quer subjetivamente (como o supereu), quer culturalmente (como as religiões, o Estado e a família). Em última instância, os semblantes são apenas montagens contingentes entre uma coisa e outra.
  Cento e dez anos depois do texto seminal de Freud, podemos dizer que a regra se mantém mas nos convida a lidar cada vez mais com a variante invertida desta estrutura. Nossas modalidades de gozo são cada vez mais sensíveis à criação de identidades, segmentações de consumo e orientações políticas. Inversamente, o oligopólio religioso da repressão deu lugar, ao menos nas sociedades ocidentais, ao projeto de auto-empreendimento individual de enunciação da norma. Por isso, podemos olhar para sociedades altamente repressivas, como a indiana, e perceber nelas uma centelha crítica. Ela tornou-se um caso de espelho invertido, de certa maneira anacrônico, de nossa relação com a moral sexual civilizada pós-moderna. Queremos prescrever um kama sutradigital como capítulo preliminar da felicidade compulsória que impomos para nossas crianças. Por outro lado, as tratamos com um equivalente da moral dupla e ambígua que Freud descreveu para as mulheres. Consideramos que elas são nossa posse e extensão, propriedade e investimento, mas também que deveriam ser livres e autônomas. Tudo isso sem nos desobedecer. Terceirizamos sua educação e nos desincumbimos do trabalho cultural de sua formação. Queremos protegê-las do mal, controlando todos os riscos trazidos pelo outro, ao mesmo tempo em que esquecemos dos riscos que nós mesmos representamos para eles como enunciação unilateral da norma. Percebe-se assim que o semblante, como articulação entre a lei e o prazer, é o lugar de uma contradição. Uma contradição que piora e mostra seus efeitos deletérios quando não pode ser reconhecida em sua estrutura de “como se”.
  O tema tão importante nos anos 1980 da educação sexual, ainda que combinado com a problemática da reprodução, da prevenção da gravidez precoce e das doenças infecto contagiosas, desapareceu quase completamente nos anos 2010. No lugar disso emerge a obscena Índia que havia ficado adormecida no Brasil profundo da Retomada: cultura do estupro, assédio generalizado, persistência do turismo sexual e da prostituição infantil, retóricas religiosas administrando o sexo antes, durante e depois do casamento, sem falar na cobertura jurídica para tratamentos de “reorientação sexual” ou no controle de museus e universidades.
  Tudo se passa como se o discurso conservador do Brasil do Retrocesso estivesse propondo o exato oposto da atitude psicanalítica: semblante composto pela enunciação repressiva, seletiva e “flexível” da norma junto com intolerância radical quanto aos modos de gozo que não lhes são idênticos. “Flexível” aqui não é mais o contrário de rígido, como se usava empregar para qualificar o supereu freudiano. Por isso, “flexível” pode assumir o valor de não ter posição alguma, isentar-se ou decidir que sua posição é a de não ter posição. “Flexível” quer dizer: de acordo com a conveniência de quem aplica localmente a regra. Ou seja: flexível na aparência, opressivo na essência. Enunciados liberais, enunciação repressiva. Exatamente como se diz que as novas leis trabalhistas flexibilizam as relações entre patrões e empregados, facultando que milhares de professores universitários sejam demitidos em nome desta “flexibilização”.
  Já que todas as identidades são possíveis, por que não a do meu curral eleitoral? Já que o relativismo comportamental é a lei geral, por que não usar a mesma regra para enunciar valores tradicionais? Já que o feminismo está se colocando por toda parte por que não voltar a vestir o machismo escancarado? É esta inversão imaginária que comanda a gramática conservadora por meio da moral dupla e da enunciação repressiva.


  A Boitempo acaba de disponibilizar mais um curso completo em seu canal no YouTube! Em “A psicanálise do Brasil entre muros”, o psicanalista Christian Dunker conduz uma leitura comentada de seu aclamado livro Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros. Ao todo, são sete aulas de cerca de 15 minutos cada dedicadas a atravessarem, capítulo a capítulo, a leitura dessa densa e explosiva obra que levou o Prêmio Jabuti na categoria de psicologia e psicanálise. A série pode servir tanto de complemento quando introdução à leitura desta contribuição desafiadora para pensar criticamente o Brasil hoje.

Christian Ingo Lenz Dunker é psicanalista, professor Livre-Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Analista Membro de Escola (A.M.E.) do Fórum do Campo Lacaniano e fundador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP. Autor de Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica (AnnaBlume, 2011) vencedor do prêmio Jabuti de melhor livro em Psicologia e Psicanálise em 2012 e um dos autores da coletânea Bala Perdida: a violência policial no Brasil e os desafios para sua superação (Boitempo, 2015). Seu livro mais recente é Mal-estar, sofrimento e sintoma: a psicopatologia do Brasil entre muros (Boitempo, 2015), também vencedor do prêmio Jabuti na categoria de Psicologia e Psicanálise. Desde 2008 coordena, junto com Vladimir Safatle e Nelson da Silva Junior, o projeto de pesquisa Patologias do Social: crítica da razão diagnóstica em psicanálise.

A forma necessária: ultraneoliberalismo, política social e conservadorismo moral sob o governo Bolsonaro



Por Sonara Santos

EBC
     O golpe que derrubou Dilma Rousseff fortaleceu no país os setores reacionários, que se sentiram à vontade para, sem pudores, disputar a hegemonia no interior das frações burguesas, e na sociedade brasileira. A origem social e o caráter político dessa nova direita – sem qualquer relação com os movimentos sociais – permitiria (vem permitindo) ao seu líder, Bolsonaro, a aplicação de um ajuste estrutural necessário à resolução da crise econômica para o capital, mas que os tradicionais representantes (partidos e candidatos) do próprio capital não pareciam ter condições de levar a cabo. O projeto do atual governo, que combina ultraliberalismo econômico e reacionarismo político-cultural, inclui a luta em torno ao próprio papel do Estado, em especial no que diz respeito à sua política social.[1]
    Nas atuais condições, de crise econômica profunda e da aparente incapacidade de recuperação da acumulação de anos anteriores por meios das formas e arranjos políticos “convencionais”, coloca-se para o capital a exigência da aplicação de um ajuste estrutural tão atroz que parece só poder se efetivar por meio de um novo regime político, cada vez menos democrático. Destarte, a crescente blindagem da democracia (DEMIER, 2017) aparenta ser um elemento fundamental para realização desta nova reestruturação capitalista no Brasil. Assim, no campo político e ideológico, verificamos, também em nosso país, a conformação de uma nova razão do mundo (DARDOT e LAVAL, 2016).
    O desgaste do regime democrático-eleitoral, com o uso pelos conservadores do tema da corrupção, e a crise provocada pelo neoliberalismo levaram ao fortalecimento da ofensiva social, política, econômica e ideológica sobre a classe trabalhadora, e saídas autoritárias para resolução de conflitos. São medidas que tentam construir um consentimento que avalize a retirada de direitos conquistados, os quais são apresentados como a razão da crise econômica e decadência moral da sociedade.
A nosso ver, diferentemente do que alardeiam os defensores da tese da “cortina de fumaça”, a verborragia reacionária do governo e as diatribes proferidas por seus ministros não podem ser vistas como manobras diversionistas que, nessa perspectiva, cumpririam apenas o papel de desviar a atenção da sociedade (e a possível resistência de setores desta) para pautas morais, culturais e comportamentais, de modo que a agenda econômica governamental (em especial, as contrarreformas) possa ser efetivada sem muita contestação.
    A partir de uma perspectiva de totalidade, pensamos, do contrário, que o conteúdo ideologicamente moralista e, sobretudo, machista expresso nas declarações de expoentes do governo é parte constituinte e necessária de um projeto político que, visando à aplicação de uma plataforma ultraneoliberal, propõe uma reconfiguração regressiva das relações sociais no Brasil. Em outras palavras, dizemos que, diante da imposição de uma austeridade orçamentária brutal e de uma violenta ofensiva contra os direitos em geral, as nefastas consequências sociais provocadas por esta agenda política (aumento da desigualdade, do desemprego, da pobreza, dos adoecidos, jovens e idosos desassistidos, entre outras) requerem, do ponto de vista da eficácia da dominação burguesa, uma nova formatação no trato da questão social, em especial no que concerne à política social, e, ainda mais particularmente, à assistência social.
   Nesse sentido, combinada à difusão de “modernas” ideologias mercadológicas, típicas da “cultura de crise” neoliberal, como o individualismo, a concorrência, o empreendedorismo dos cidadãos-consumidores e a filantropia empresarial (MOTA,1995), verifica-se uma intensificação de ideologias conservadoras e retrógadas, sobretudo no que diz respeito ao papel social destinado à mulher, tomada como um sujeito centralmente voltado para as tarefas do lar, cuidados com a família e, se possível, dedicado à atividades de caridade e outras formas de voluntariado. Desse modo, longe de se excluírem, essas ideologias “avançadas” e “atrasadas” constituem, para nós, um arsenal cultural necessário ao novo modelo de dominação burguesa que se pretende estabelecer, o qual, por sua vez, parece ser necessário à nova forma de acumulação capitalista no país, ultraneoliberal, financeirizada e cada vez mais alimentada pela despossessão e espoliação de direitos (HARVEY, 2013). Portanto, remontando à dialética marxiana, pode-se dizer que a forma politicamente reacionária e culturalmente conservadora do governo Bolsonaro é uma forma necessária ao conteúdo de um projeto econômico ultraneoliberal para o país.
   Assim, para além de uma cortina de fumaça, as declarações misóginas de Damares Alves (ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos), assim como o primeiro-damismo carola de Michelle Bolsonaro – defensora contumaz de um voluntariado[2] – podem ser compreendidas como práticas necessárias à viabilização da agenda econômica contrarreformista do governo.
Divulgação/PR - Damares, Bolsonaro e Michelle
   A desresponsabilização do Estado no cuidado com crianças e idosos, como se sabe, atinge de maneira diferente homens e mulheres, negras e brancas. O fim do Estado como provedor de direitos sociais, a negação de direitos civis básicos a pessoas transexuais e às mulheres, assim como o racismo estrutural, são elementos funcionais para desumanização e desvalorização do trabalho de determinadas pessoas. É projeto do governo Bolsonaro aumentar os patamares de exploração no Brasil, e para isso manter níveis diferenciados e racializados de exploração são necessários. Assim, a naturalização ideológica de papéis sexuais, ao mesmo tempo que busca a destruição de laços de solidariedade entre potenciais aliados reforça os ataques do capital.
    A constante profusão de narrativas governamentais (e seus aliados digitais) em que mulheres, negros, LGBTs, ambientalistas e movimentos sociais em geral são apresentados como inimigos internos, como responsáveis pela degeneração social, contribuem para a construção de um consenso conservador, baseado nos valores tradicionais dos “cidadãos de bem” e da “família brasileira”, a qual passa a ser responsabilizada pelos serviços de proteção que gradativamente deixam de ser  oferecidos pelo Estado.
   É importante destacar também que essas ideologias conservadoras que ganham força a cada dia se contrapõem diretamente – e mesmo podem ser vistas também como respostas – à nova onda feminista, da qual emergiram autoras cujos trabalhos oferecem subsídios para entender o papel da mulher nesta nova configuração da acumulação capitalista. Indo além das formulações típicas da burocracia stalinista, as teóricas da reprodução social, superando as visões que reduziram o capitalismo às relações propriamente econômicas, essas autoras feministas recuperam a perspectiva  marxista que concebe  o modo de produção capitalista como uma totalidade, cuja persistência depende da contínua reprodução de relações sociais, o que coloca a importância não só de vários tipos de trabalho (trabalho improdutivo, trabalho não-pago etc.), assim como também de aspectos coercitivos e culturais.[3] Segundo Cinzia Arruzza, uma dessas autoras feministas:
   “A noção de reprodução social, nessa perspectiva, tem o sentido de destacar a centralidade do trabalho de manutenção da vida e de reprodução da próxima geração como uma parte do trabalho necessário no interior de todo o processo de reprodução societal. Sob o capitalismo a maior parte desse trabalho é executado no interior da unidade familiar, mas esse não é necessariamente sempre o caso. Ademais, dentro do capitalismo, a porção desse trabalho que é executado seja no interior da família, seja pelo Estado na forma de bemestar, ou pelo mercado, varia de acordo com as circunstancias históricas específicas” (ARRUZZA, 2017, p.41)
Assim, se, por um lado, a burguesia busca aumentar a cota de trabalho sob responsabilidade da família, de modo a aumentar a lucratividade do capital, por outro, o movimento feminista busca resistir à desobrigação do Estado com as áreas sociais. A disputa em torno ao caráter da assistência social é, portanto, um exemplo desta luta atual.
   Ao que tudo indica, o governo Bolsonaro está em vias de criar sua própria concepção de assistência social. Há um empenho governamental, sobretudo no âmbito ideológico, em se apagar a política pública de assistência como um direito, propugnando a substituição da assistência pelo assistencialismo, a partir da ampliação do trabalho caseiro, solidário e voluntário, no qual  predomina a força de trabalho feminina. Conforme afirmou Ana Elizabete Mota em recente palestra na Escola de Serviço Social da UFRJ, no momento em que há um aumento do desemprego, e que a política estatal de assistência, em vias de desfinanciamento, se mostra insuficiente para atender a uma população cada vez mais degradada, nota-se o avanço de um voluntariado de novo tipo, substituindo as políticas públicas justamente quando mais se precisa delas. Assistimos, portanto, à intensificação da filantropia ancorada em uma visão conservadora e patriarcal da mulher, da família, e da moral.
   O avanço dessas ideologias bolorentas, nos marcos de uma onda conservadora, parece estar resultando no retorno de uma visão conservadora sobre o próprio serviço social, isto é, no retorno de uma visão doméstica, feminina e voluntária da assistência social, significando, de certa maneira, justamente no quadro de um “moderno” ultraneoliberalismo financeirizado e digital, uma espécie de reaparição  das “arcaicas” protoformas da profissão, em um curioso e atual exemplo concreto da lei do desenvolvimento e combinado de Trotsky[4]
   Esse ultraneoliberalismo põe em xeque até mesmo o papel que a assistência social teve na construção do consenso nas décadas de 1990 e 2000. Nos parece que a tese apresentada por Mota, da expansão da assistência social em paralelo à mercantilização da seguridade social, pode ser atualizada, visto que nem mesmo essa mediação parece ser mais possível diante da necessidade de um novo patamar de exploração.
   O novo projeto ultraneoliberal no Brasil atual parece, assim, exigir não apenas a privatização da seguridade social, mas também o corte dos recursos destinados às políticas sociais sobrantes, inclusive às políticas constitucionais de assistência social e às políticas governamentais de caráter focalizado e compensatório. Nesse processo, para o capital, se faz necessário a derrota de todos os setores que representem algum grau de resistência à consolidação desse novo padrão de acumulação. O retorno do papel da mulher, e um novo tratamento da questão social, parecem vir a se combinar com o novo modelo de organização da vida social pretendido pela nossa classe dominante.
Referências:
Arruzza, Cinzia. “Funcionalista, determinista e reducionista: o feminismo da reprodução social e seus críticos”. Cadernos Cemarx n.10, 2017, p. 38-58.
BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história. São Paulo : Cortez, 2008.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo. Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
DEMIER, Felipe. Depois do golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 2017. 
____. “A lei do desenvolvimento desigual e combinado de León Trotsky e a intelectualidade brasileira”. Outubro n°. 16. São Paulo, 2008, p. 75-107.
HARVEY, David. Os limites do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço social em tempo de capital fetiche: capital
financeiro, trabalho e questão social 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.
LÖWY, Michael. “A teoria do desenvolvimento desigual e combinado” in Outubro, n. 1, 1998, p. 73-80
MOTA, Ana Elizabete. Cultura da crise e seguridade social: Um estudo sobre as tendências da previdência e da assistência social brasileira nos anos 80 e 90. São Paulo: Cortez, 1995.
[1] Sobre o histórico da política social no Brasil, ver (BEHRING e BOSCHETTI, 2008).
[2] “Michelle Bolsonaro propõe que trabalho voluntário desempate concursos”. Folha dirigida, 28 de agosto de 2019 (https://www.folhadirigida.com.br/noticias/concurso/especial/michelle-bolsonaro-propoe-que-trabalho-voluntario-desempate-concursos) (acessado em 29/08/2019).
[3] A noção de reprodução social, aliás, é um aspecto teórico fundamental para a própria discussão do Serviço Social, como já demonstraram importantes autores como IAMAMOTO (2008).
[4] Quanto a este conceito de Trotsky, ver (LOWY, 1999) e (DEMIER, 2008).



Fascismo e conservadorismo no mundo contemporâneo

QUEM SOMOS NÓS? | Que País é Esse?| Florestan Fernandes e Gilberto Freyre

A onda conservadora, de Felipe Demier e Rejane Hoeveler

Os perigos do avanço do conservadorismo no Brasil

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Princípios, estratégia e tática na política revolucionária

Por Henrique Canary, da Secretaria Nacional de Formação Em cada momento da luta de classes, os socialistas são confrontados com o desafio de trazer ao mundo uma nova ordem política, social e econômica. Mas sabem que essa nova ordem, o socialismo, só pode ganhar vida se o partido revolucionário souber atravessar as distintas e complicadas fases da luta pela consciência das massas. Em cada uma dessas fases, os socialistas devem apresentar propostas concretas, que sejam compreensíveis para os trabalhadores e que os façam avançar. Ao mesmo tempo, essas propostas devem estar em sintonia com os fins perseguidos pelos revolucionários.Como equilibrar esses dois pólos, aparentemente contraditórios? Como caminhar sobre uma navalha tão afiada? Assim, os problemas relativos aos princípios, à tática e à estratégia dos socialistas, na luta política, são dos mais complexos do marxismo. É preciso sempre tê-los presentes.

Os princípiosOs princípios, como o próprio nome diz, são as bases fundadoras de um determinado movimento. Como qualquer base, os princípios não podem ser abalados, sob a ameaça de que todo o prédio desabe. Não são moedas de troca em nenhuma negociação política, não podem ser flexibilizados, sob qualquer hipótese. Sua defesa não depende da situação política concreta. Por exemplo: somos contra a ditadura de Bashar al-Assad na Síria e apoiamos as massas desse país em seu enfrentamento armado contra o governo. Mas somos absolutamente contrários à intervenção imperialista na Síria, mesmo que seja para derrubar al-Assad, porque isso abala um princípio de nossa organização: a luta contra o imperialismo.Assim, nossos princípios mais elementares são: o internacionalismo proletário; a independência política e organizativa da classe trabalhadora em relação à burguesia; a democracia operária; a luta contra o imperialismo; o combate a todo o tipo de opressão etc. A política
Mas não seria revolucionário o partido que ficasse repetindo, como um iPod quebrado, esses princípios. Como qualquer “alicerce”, os princípios “não se mexem”, não podem ser colocados diretamente em movimento.
Assim, em 1979, para concretizar o princípio da independência de classe e arrancar os trabalhadores da influência do MDB, que fazia uma oposição burguesa à ditadura militar, a Convergência Socialista, antecessora do PSTU, propôs a formação de um Partido dos Trabalhadores. A proposta foi amplamente discutida nos setores mais combativos do movimento e, em 1980, o PT foi fundado.Ao contrário, quando o PT se adaptou de maneira completa e irreversível à democracia burguesa e tentou, em 1992, frear a luta pela derrubada de Fernando Collor nas ruas, a mesma Convergência Socialista rompeu com a sigla e fundou uma nova organização, o PSTU. O mesmo princípio que nos levou a construir o Partido dos Trabalhadores, em 1980, fez-nos romper com ele, 12 anos depois.Ou seja, em cada situação concreta o partido revolucionário formula mediações que colocam em marcha seus princípios, dão carne e sangue ao que, no início, não passava de palavras no papel. Essa mediação se chama política. A política é, portanto, a atividade concreta do partido, a atuação real da organização e não deve ser confundida com os princípios.A relação entre os princípios e a política: oportunismo e sectarismoMas qual a relação entre os princípios e a política? Ora, todo princípio tem que se expressar em alguma política e toda política tem que estar em sintonia com os princípios, não pode se opor a eles. Por exemplo, o internacionalismo deve se expressar em alguma política concreta. Por isso, diante da participação das tropas brasileiras na ocupação do Haiti, o PSTU faz uma campanha permanente contra esse fato, promove palestras, organiza caravanas ao Haiti, denuncia as atrocidades cometidas pelo Exército brasileiro no país etc. Se, ao contrário, defendêssemos a presença das tropas brasileiras no Haiti simplesmente porque são as “nossas” tropas, então nossa política estaria ferindo um princípio elementar.Isso parece simples, mas não é. O que fazem, por exemplo, as organizações oportunistas? Separam os princípios da política. Para elas, os princípios são uma coisa e a política é outra completamente diferente. Não têm relação entre si. Assim, muitas organizações se dizem socialistas, mas na vida real apoiaram ou se calaram diante do governo Lula e, hoje, fazem o mesmo com Dilma, justificando sua passividade diante dos ataques aos trabalhadores com uma suposta “disputa dos rumos do governo” e com a necessidade de “impedir a volta da direita”. Ou seja, abandonaram o princípio da independência de classe.No outro extremo, estão as organizações ultraesquerdistas. O que elas fazem? Ao invés de formular uma política, elas simplesmente agitam os princípios. Nas assembleias, não páram de gritar “fora a burocracia!”, mas são incapazes de articular uma chapa de oposição que derrube de fato a burocracia. São os mais radicais na denúncia do governo, mas não conseguem formular uma única exigência que empolgue os trabalhadores e os coloque em movimento, para que, na luta, compreendam que esse é um governo dos banqueiros e latifundiários. Sempre que alguém tenta traduzir um princípio abstrato para o idioma da política concreta (por exemplo, chamar a unidade de todas as centrais sindicais contra a Reforma da Previdência), as organizações ultraesquerdistas veem nisso uma traição aos princípios e lançam suas tradicionais acusações: “Capituladores! Reformistas! Etc.” Para a ultraesquerda, a política não existe. Só existem os princípios. Tática e estratégia
Dentro do conceito de política, estão os conceitos de tática e estratégia. O senso comum tem uma compreensão errada desses termos. Em geral, trata-se como se fossem sinônimos, mas isto não é assim. Tática e estratégia são termos militares. A estratégia é o fim a ser alcançado, o objetivo estabelecido. As táticas são os meios, os caminhos escolhidos para se chegar a esse fim.
Tática e estratégia são termos relativos e um deve sempre ser definido em relação ao outro. O que é apenas uma tática num momento, torna-se uma estratégia em outro. E vice-versa. Por exemplo, os trabalhadores definem fazer uma greve. Essa é sua estratégia naquele momento. Para garantir a paralisação, poderão utilizar diferentes táticas: piquete na porta da fábrica, furar os pneus dos ônibus que levam os trabalhadores para a empresa etc. O importante é garantir a greve (estratégia). Mas se olharmos mais amplamente, a própria greve não passa de uma tática para atingir um objetivo maior: o aumento salarial. Em outra situação, quando não há mobilização suficiente, ao invés de fazer greve, poderão apenas atrasar os turnos ou algo parecido. Nesse caso, em relação ao aumento salarial, a greve deixou de ser a estratégia e passou a ser uma das táticas possíveis, nada mais. A confusão entre tática e estratégia
O grande perigo para a política revolucionária é confundir tática com estratégia. Por exemplo, o Marxismo sempre defendeu a participação nos processos eleitorais como uma mera tática para se chegar ao movimento de massas e construir o partido revolucionário. Mas algumas organizações transformaram essa tática em uma estratégia permanente no objetivo de suas vidas. É o caso do PSOL, cujo programa, forma de funcionamento interno, política de alianças e prática cotidiana giram em torno da disputa eleitoral e de uma melhor localização nos espaços da democracia burguesa.
No extremo oposto, estão as organizações ultraesquerdistas que rejeitam a participação nas eleições, alegando que isso significa abandonar a estratégia da revolução socialista e da mobilização direta das massas.Há, ainda, organizações que adotam sempre a mesma tática, não importando de que tema se trate e quais as condições concretas. Eleições sindicais? Unidade da esquerda! Eleições burguesas? Unidade da esquerda! Governo está forte? Unidade da esquerda! Governo está fraco? Unidade da esquerda! Trata-se, é evidente, de uma forma infantil de fazer política.Portanto, a relação fundamental que se estabelece entre tática e estratégia é: uma tática sempre deve estar a serviço de uma estratégia, ou seja, o meio (caminho) escolhido não pode se chocar com o objetivo estabelecido. Por outro lado, táticas são táticas e devem ser adotadas e abandonadas à medida que a realidade muda. Se a tática leva à estratégia, é uma boa tática. Se não leva, não é. Adota-se outra e pronto. A relação entre princípios, estratégia e tática
Mas não basta que a tática leve à estratégia para ser considerada boa. A tática revolucionária deve levar à estratégia sem abandonar os princípios. Ou seja, a conexão entre esses três termos não pode ser rompida. Deve haver sintonia entre eles.
Por que? Porque se uma tática leva à estratégia, mas foge dos princípios, significa que está abalando as bases da própria organização, está tornando ainda mais distante os objetivos pelos quais a organização se formou.
Por exemplo, queremos derrubar a burocrata que dirige o sindicato há mais de 20 anos. Essa é nossa estratégia. Mas se para isso nos utilizamos de táticas machistas, se agitamos que ela não pode dirigir o sindicato porque é uma “histérica mal-amada”, que “não aguenta o tranco porque é mulher”, pode ser até que a derrubemos. Mas junto com ela, abandonarão a luta sindical inúmeras mulheres trabalhadoras, que não suportarão o clima opressivo instalado no sindicato. O sindicato, e portanto a luta e a organização, ficarão mais fracos. A tradição revolucionária
Uma das maiores contribuição do Marxismo ao movimento operário contemporâneo é justamente o estabelecimento desse laço indissolúvel entre meios e fins, que estão ligados entre si por uma cadeia de mediações chamada política. Ao mesmo tempo, o Marxismo demonstrou que um mesmo fim admite distintos caminhos. Somente a análise de cada situação concreta pode determinar se uma certa tática é correta ou não, se rompe com os princípios ou não. Nenhuma receita de antemão é possível.
O Partido Bolchevique, o partido mais revolucionário que a humanidade já conheceu, entrou para a história por sua absoluta firmeza estratégica e pela rigidez titânica de seus princípios. Mas pouco se fala da incrível flexibilidade que o Partido Bolchevique, dirigido por Lenin, apresentava quando se tratava de escolher uma tática, definir uma tarefa parcial de curto prazo. Se não fosse a rigidez dos princípios, os bolcheviques jamais teriam conquistado o poder; teriam se degenerado pelas vias do oportunismo, como o fizeram tantas outras organizações. Mas, também, se não fosse a flexibilidade tática, não teriam jamais conquistado a consciência das massas, pré-condição necessária para a luta pelo poder; teriam se transformado em uma seita marginal, como também aconteceu com tantos outros partidos.Como dizia Nahuel Moreno, dirigente trotskista argentino, fundador de nossa corrente internacional, a Liga Internacional dos Trabalhadores, referindo-se à experiência da Revolução Russa: “O bolchevismo lutou contra os terroristas, mas soube usar o terror; lutou contra os sindicalistas, mas foi o campeão na luta sindical; lutou contra os parlamentaristas, mas usou o parlamento de forma hábil e revolucionária; lutou contra a guerrilha, mas soube fazer guerrilhas; lutou contra os espontaneístas, mas soube colocar-se à frente das mobilizações espontâneas. E, diferentemente dos anarquistas, que passaram toda vida ameaçando com ‘Abaixo o Estado burguês’, sem consegui-lo, o bolchevismo soube fazê-lo quando foi necessário e possível. Isto porque todas as táticas, que utilizou com audácia e sem nenhum preconceito, sempre estiveram a serviço de seu grande objetivo estratégico: seu desenvolvimento como partido dos trabalhadores, para que as massas russas tivessem uma direção revolucionária e, ao mesmo tempo, a mobilização dessas mesmas massas, o que lhe permitiu tomar o poder e fazer a revolução socialista em outubro de 1917.”Trata-se, portanto, de recuperar as velhas e boas tradições do Marxismo revolucionário.Post author Henrique Canary, da Secretaria Nacional de Formação
Fonte: https://www.pstu.org.br/principios-estrategia-e-tatica-na-politica-revolucionaria/